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O JUBILEU DA ESPERANÇA: INDUGÊNCIAS (II)

 

O JUBILEU DA ESPERANÇA: INDUGÊNCIAS (II)

O Jubileu é um tempo de Indulgências. O Catecismo da Igreja ensina que “a indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, remissão que o fiel bem-disposto obtém, em condições determinadas, pela intervenção da Igreja que, como dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua autoridade o tesouro das satisfações (isto é, dos méritos) de Cristo e dos santos”, podendo ser a indulgência “parcial ou plenaria, conforme liberar parcial ou totalmente da pena devida ao pecado” (CIC, 1471).

Trata-se, portanto, da remissão da chamada “pena temporal do pecado”. De fato, a Igreja ensina que “o pecado tem uma dupla consequência. O pecado grave priva-nos da comunhão com Deus e, consequentemente, nos torna incapazes da vida eterna; essa privação se chama ‘pena eterna do pecado. Por outro lado, todo pecado, mesmo venial, acarreta um apego prejudicial às criaturas que exige purifi-cação, quer aqui na terra, quer depois da morte, no estado chamado purgatório. Esta purificação liberta da chamada ‘pena temporal do pecado. (…) O perdão do pecado e a restauração da comunhão com Deus implicam a remissão das penas eternas do pecado. Mas permanecem as penas temporais do pecado” (CIC, 1472).

As penas temporais do pecado são as “cicatrizes ou marcas negativas que os pecados deixaram no nosso comportamento e nos nossos pensamentos” (Papa Francisco, Misericordiae vultus, 22). Essas consequências negativas permanecem mesmo depois de recebermos o perdão no Sacramento da Penitência, pois este sacramento não tem o mesmo efeito do Batismo, que apaga todos os pecados e todas as suas penas. Essas penas, todavia, “não devem ser concebidas como uma especie de vingança infligida por Deus do exterior, mas, antes, como uma consequência da própria natureza do pecado” (CIC, 1472). Todo pecado desarmoniza a nossa vida e o processo rearmonização é lento e exigente. Por isso, com a indulgência, a misericórdia de Deus “torna-se indulgência do Pai que, através da Esposa de Cristo, alcança o pecador perdoado e liberta-o de qualquer resíduo das consequências do pecado” (Papa Francisco, Misericordiae vultus, 22).

Embora essa separação entre perdão da culpa e remissão da pena temporal do pecado corra o sério risco de parecer demasiado formal, jurídica e institucional, ela tem a capacidade de nos apontar a dimensão eclesial do perdão. Como nenhum ser humano é uma ilha, tanto os pecados como a santidade têm consequência na vida social:
“Quem peca fere a honra de Deus e seu amor, sua própria dignidade de homem chamado a ser filho de Deus e a saúde espiritual da Igreja, da qual cada cristão é uma pedra viva” (CIC, 1487). Um grande teólogo alemão, Karl Rahner afirma: “A essência da indulgência consiste na oração particular que a Igreja eleva a Deus em favor da completa purificação dos seus membros e que, na indulgência, pode. ser aplicada solenemente e de modo particular a um determinado membro do seu corpo’. Portanto, a indulgência é um dom que nos vem pela mediação da Igreja na força da comunhão dos santos. A Igreja-esposa intercede a Cristo-esposo em favor dos pecadores vivos e pelos mortos para acelerar o seu processo de purificação.

Não se trata de um gesto mágico ou espiritualístico, mas de um convite a um caminho de profunda conversão: “A indulgência não substitui a difícil tarefa do amor, mas é uma ajuda oferecida pela Igreja para nos ajudar nessa dificil tarefa de amar’ (Karl Rahner). O ano jubilar é um convite a uma adesão maior a Cristo e à vida cristã que tem o seu ápice no mandamento do amor. Sem uma verdadeira purificação não conseguimos chegar ao amor perfeito. E essa purificação não é fruto do nosso esforço, mas obra da graça de Deus.

Com o intuito de nos ajudar no processo de conversão, a Igreja estabelece algumas condições para recebermos as indulgências: 1) ter repulsa por todos os pecados, até mesmo os veniais; 2) fazer a confissão sacramental ou não estar em pecado mortal; 3) receber a Eucaristia; 4) rezar nas intenções do Santo Padre o Papa, um Creio, um Pai Nosso, uma Ave Maria e um Glória; 5) cumprir a obra indicada, quando ha determinação da Igreja, que no caso específico do Jubileu da Esperança inclui a visita a uma das igrejas jubilares.

Com o dom das indulgências nós fazemos a experiência da força da santidade que é maior do que a força do pecado: “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5, 20). O amor de Deus por nós não tem limites! Essa é a nossa esperança: “nada pode nos separar do amor de Cristo” (Rm 8,39).

Pe. Júlio César Morais
Pároco da Paróquia Santo Antônio da Se – Catedral
julioscjm9@hotmail.com

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