“Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”
(Lc 10,33-34)
Com a iniciativa dos três padres responsáveis pela Caritas Brasileira, no ano de 1961, onde idealizaram uma campanha para arrecadar fundos para as atividades assistenciais, surgiu a Campanha da Fraternidade realizada pela primeira vez na Quaresma de 1962, em Natal, Rio Grande do Norte. Cada ano, no tempo da Quaresma, é apresentado um tema e um lema. A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), nos brinda em 2020, com o tema Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso e com o lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34). A dádiva a nós dirigida, quer dar respaldo ao cuidado, hasteando nossas atenções, ao profundo sentido da vida, em suas diversas dimensões: Pessoal, comunitária, social e ecológica. A modernidade tem uma grande capacidade de criar, que vislumbrando o que almeja lança-se, sem medo, atrás de seus objetivos. O humano com sua capacidade racional de conhecimentos, é o grande guardião dos mais nobres sentimentos que lhe são presenteados ao longo da vida. As palavras de Jesus são imperativas: “Que todos tenham vida” (Jo 10,10).
O grande ato de amor de Deus, para conosco, foi doar sua vida por nós (1Jo 3, 16). Quando agradecemos o novo dia, automaticamente, estamos sendo gratos ao Criador. O amor nos faz sentir a vida nas pequenas ou grandes coisas que o cotidiano em suas labutas nos pede. Diante desta realidade, o dia a dia nos é apresentado como um corpo. A saúde e o bem estar só depende de nós. A consciência, os sentimentos e o coração são como páginas. Ao folhearmos seus conteúdos, logo lemos que a vida é uma dádiva. Mário Quintana nos diz: “Não faça da vida um rascunho, você pode não ter tempo de passar a limpo”. Pela vida, Jesus sempre procurou os necessitados (Mt 11, 28-30). Isto é fato. Por isso, quem visita uma família sofrida, um hospital, um asilo, uma cadeia; quem anda pelas ruas de nossas cidades e vê seres humanos, rogando que lhe concedam vida digna, saúde merecida, sustento sagrado, compreensão pela falta cometida, logo se interessa pela vida e pelo amor negado. O Papa Francisco nos assegura: “Digo a todos que independente das convicções de fé, coloquem como prioridade do bem comum a defesa da vida dos que estão para nascer e fazer parte da sociedade, à qual devem trazer novidade, futuro e esperança”. Jesus quer sempre a cura e o bem (Lc 5, 14)
Que as pequenas observações, sofrimentos, decepções, amarguras e tristezas nos faça valorizar o quanto vale a vida. Se temos sucesso e felicidade, devemos genuflexos retribuir à vida este bem estar. Registre, bem, as quatros dimensões da Campanha da Fraternidade deste ano, ou seja: A pessoal, comunitária, social e ecológico. O tema bíblico apresentado quer direcionar a atenção para a compaixão (Lc 10, 25-37). Não vale só o vínculo social num sistema mecânico que traduz a existência. Aquele com quem convivemos e vemos é que traz a abertura de nossas atenções. Experimente ter os olhos de Jesus e visualize a parábola. Veja o quanto a compaixão mexeu com o sentimento do Mestre (Lc 10, 33-34). Na Exortação Apostólica Querida Amazônia, o Papa nos alerta: “Tudo o que a Igreja oferece deve encarnar-se de maneira original em cada lugar do mundo, para que a Esposa de Cristo adquira rostos multiformes que manifestem melhor a riqueza inesgotável da graça” (QA, 6). Por isso, almejo que nossas celebrações, vias sacras, caminhadas penitenciais e outros sempre nos leve a valorizar o pessoal, comunitário, social e ecológica. Pense nisso.
Côn. Dr. Manuel Quitério de Azevedo
Prof. do Seminário de Diamantina e da PUC – MG
Membro da Academia de Letras e Artes de Diamantina (ALAD)
Membro da Academia Maria de Aparecida – SP