por Eliana Tomaz de Almeida
Mestra em teologia e Secretária Arquidiocesana de Pastoral
A Arquidiocese de Diamantina promoveu, nos dias 04 e 05 de novembro, a VI Assembleia Arquidiocesana de Pastoral. O Arcebispo de Diamantina, Dom Darci José Nicioli, CSsR, coordenou os trabalhos da Assembleia, que foi realizada no Seminário Provincial Sagrado Coração de Jesus. O evento foi assessorado pelo padre jesuíta de Belo Horizonte, Geraldo Luís De Mori.[1]

A VI Assembleia reuniu, em Diamantina, cerca de 350 pessoas, entre o Arcebispo, Clero; religiosos (as), leigos; Sociedades de Vida Apostólica e Associações de Fiéis de 55 paróquias, presentes nas seis Foranias, das regiões do Vale (Diamantina, Serro e Itamarandiba) e do Sertão (Curvelo, Corinto e Pirapora).
Pode-se dizer que no pensamento de São João Crisóstomo, bispo e doutor da Igreja, encontra-se a síntese deste momento histórico da realização da VI Assembleia, e o objetivo que se quer alcançar como Igreja Arquidiocesana, nos seus diversos ministérios e trabalhos de evangelização: “A Igreja é a assembleia convocada para dar graças e louvores a Deus como um coro, uma realidade harmônica onde tudo se mantém unido, pois aqueles que a compõem, mediante as suas recíprocas e ordenadas relações, convergem no mesmo sentir. Igreja é nome que indica caminhar juntos”. Pensamento, esse, em unidade profunda com o Sínodo, convocado pelo Papa Francisco. “Por uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação e Missão”.[2]
No espírito Sinodal e em comunhão com o Papa Francisco, os participantes da VI Assembleia refletiram e estudaram o Instrumento de Trabalho, que ao final da Assembleia, foi votado e aprovado. No Instrumento de Trabalho está a síntese de todos trabalhos realizados em preparação para a Assembleia, processado em diferentes fases (2018-2023): articulação dos trabalhos em comissões, questionário/escuta, retiros, síntese, miniassembleias e estudos. A elaboração do Instrumento de Trabalho foi, assim, constituída em três vertentes: do Ver, Iluminar e Agir. O documento servirá como orientação para os novos rumos da evangelização da Igreja Arquidiocesana e dos anos vindouros (2024-2027). A partir da VI Assembleia, há, portanto, um novo plano de Evangelização, que norteará os trabalhos das Cinco Comissões: Animação Bíblico-Catequética-Pastoral, Vida em Comunidade, Caridade e Missão.
Síntese dos trabalhos da VI Assembleia
O Arcebispo, na abertura da Assembleia, ressaltou a importância deste momento coincidir com vários acontecimentos eclesiais do Brasil, da América Latina e do mundo, sobretudo, no que diz respeito à Igreja Sinodal e do caminhar juntos, como conclama o Papa Francisco. O Arcebispo mencionou que, de certa forma, a Igreja Arquidiocesana antecipou esses acontecimentos quando, em 2018, iniciou o processo preparatório da VI Assembleia, escutando as bases por meio de questionários enviados às paróquias. Recordou, ainda, que a última Assembleia aconteceu há 22 anos e que muitos padres e leigos não tiveram, ainda, a oportunidade de participar de um acontecimento tão importante como o da realização de uma Assembleia, como estão fazendo agora.
Destacou, ainda, que a VI Assembleia era para ter acontecido em meados de 2021, mas por causa da pandemia da COVID-19, foi necessário desacelerar e adiar o processo. Enfim, superado aquele momento, deu-se continuidade à caminhada que já vinha sendo feita e bem antes da pandemia. A VI assembleia vem de um processo rico e de trabalho árduo, que encontra o seu momento culminante na presente data. “Todo um processo foi realizado e, esta Assembleia, é celebrativa, quer ser decisória dos passos que juntos vamos dar para continuar a nossa obra de evangelização”, enfatizou o Arcebispo.
Os estudos e as dinâmicas de desdobramento da VI Assembleia transcorreram em vários momentos. O Assessor destacou algumas ações do Sínodo dos Bispos, que está acontecendo em Roma, correlacionando-as com a realidade da Arquidiocese e das ações que foram elencadas no Instrumento de Trabalho.
Outras atividades, também, foram realizadas durante o dia: apresentação das partes do Instrumento de Trabalho (Ver, Iluminar e Agir); igualmente, as ações indicadas pelas Comissões no Instrumento de Trabalho, que foram reforçadas pelos coordenadores e revistas, em grupo, pelos participantes. Enfim, foram vários os momentos de estudo, reflexão, espiritualidade e celebração da caminhada.
No Domingo (05), realizou-se a votação do objetivo geral, objetivos específicos e ações das comissões. Posteriormente, será divulgado para todas as paróquias, o novo Plano de Pastoral para os anos de 2024 a 2027.
Conclusão da VI Assembleia
No encerramento da VI Assembleia, realizou-se uma caminhada festiva dos participantes, do Seminário em direção à catedral, culminando com a Eucaristia presidida pelo Arcebispo e concelebrada pelo Clero.
Na solenidade de todos os Santos, o Arcebispo refletiu o convite para crescer na santidade, por meio de ações caritativas e de enfrentamento às adversidades da vida. Jesus é o modelo perfeito da santidade e nos inspira neste caminhar. “O Dia de Todos os Santos é o nosso dia, é o seu dia! O processo sinodal que vivemos nos favoreceu, abrindo os olhos, a mente e o coração para os desafios de nossa Igreja Arquidiocesana, para que ela seja testemunho de santidade, bem como reavivou em todos nós as riquezas que a graça de Deus permitiu, nesta mais que sesquicentenária obra de evangelização. Ecclesia semper reformanda! Uma Igreja que se refaz sempre!” O Arcebispo motivou os cristãos e participantes da Assembleia para algumas ações bem concretas: modificar o foco da pastoral de manutenção para o agir pastoral, decididamente missionário; abrir mão de um modelo de pastoral que não oferece mais resultado; atentar-se para a mudança de época; atualizar a prática de evangelização; permanecer fiel à missão do discipulado; descobrir o que emergiu da assembleia e assumir tudo com coragem à missão. Dom Darci José, ainda, relembrou as forças operantes na Arquidiocese e incentivou para que todos assumam a pastoral orgânica e de conjunto, concretizadas no plano de pastoral elaborado pela Arquidiocese. “Ser santo e santificar o outro”, reforçou.
Ao final, invocou a proteção de Santo Antônio e da Virgem da Piedade, conclamando: “Juncti Valemus”!
Acontecimentos que antecederam a realização da VI Assembleia
O Arcebispo de Diamantina, Dom Darci José Nicioli, CSsR, deu continuidade à trajetória histórica de realizações de assembleias, que se iniciou em 1986, quando o Arcebispo, Dom Geraldo Majela Reis (in memorian) convocou a primeira Assembleia do Povo de Deus. A última Assembleia de Pastoral, a quinta, realizou-se no, então, pastoreio do Arcebispo, Dom Paulo Lopes de Faria (in memorian), em 2001.
Após 22 anos, desde a realização da última Assembleia, Dom Darci José, convocou o Clero, os leigos, os religiosos e as religiosas, as Sociedades de Vida Apostólica, as Associações de Fiéis de nossa Arquidiocese, para a VI Assembleia Arquidiocesana de Pastoral.
Pode-se dizer que a convocação para a VI Assembleia, assemelha-se ao sentimento das festividades geradas por ocasião do jubileu dos 100 anos da Arquidiocese e o sesquicentenário do Seminário Sagrado Coração de Jesus, que se realizou, em 2018. A data comemorativa do jubileu coincidiu com o início do processo preparatório da VI Assembleia.
“Fé, História e Missão”, tema do jubileu, pertencem à trajetória de tantos homens e mulheres que precederam a Igreja viva e que, hoje, tem novos protagonistas. A Igreja, que somos nós, continua na trilha dos seus predecessores, com novos métodos e renovado ardor missionário.
Quando foi empossado em 2016, Dom Darci José, naquela ocasião, trouxe à memória um pouco destes acontecimentos quando refletiu em sua homilia a história, a riqueza da missão e dos missionários na Arquidiocese. “Quero, por oportuno, reverenciar as incomensuráveis riquezas desta Igreja adamantina: a riqueza dos 76 sacerdotes diocesanos, valorosos missionários do cotidiano eclesial, colaboradores sem os quais o bispo não realiza a sua missão …. seminaristas, certeza de um presente e futuro promissores … Quanta riqueza encerra o trabalho pastoral dos senhores Bispos que, ao longo da história, presidiram esta Igreja, desde Dom João Antônio dos Santos, primeiro Bispo Diocesano nos idos de 1863, até os dias atuais… a preciosidade dos consagrados e consagradas que na história ajudaram ou ainda hoje ajudam na construção desta Igreja arquidiocesana … as lideranças leigas, discípulas e discípulas missionários: quanta preciosidade!” (p. 153-154)
A VI Assembleia Arquidiocesana de Pastoral já estava no coração do Arcebispo e, igualmente, era um sonho acalentado pelo Clero, religiosos e leigos. E que feliz coincidência que a Assembleia tenha se concretizado neste ano de 2023, quando um marco de acontecimentos eclesiais, importante da Igreja do Brasil e do mundo se realizam: Ano Vocacional, Sínodo dos bispos e, de modo especial, vale ressaltar, ainda, alguns acontecimentos, igualmente, importantes da Arquidiocese: Jubileu dos 10 anos de Episcopado do nosso Arcebispo, Dom Darci José; Jubileu dos 25 anos de Sagração Episcopal do bispo emérito de Porto Nacional-TO, Dom Geraldo Vieira Gusmão (nomeado bispo quando era padre na Arquidiocese de Diamantina), Jubileu dos 25 anos de Ordenação Presbiteral de Dom Lindomar Rocha Mota, bispo de São Luís de Montes Belos – GO e os 90 anos de falecimento de Dom Joaquim Silvério de Souza, primeiro Arcebispo de Diamantina (na segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX), falecido em 30 de agosto de 1933.
Início dos preparativos da VI Assembleia
Em 2018, a Coordenação Arquidiocesana de Pastoral, através do seu Coordenador de Pastoral, Pe. Nereu Pacífico dos Reis, elaborou o Projeto Arquidiocesano de Evangelização. Com o Lema “A alegria de Evangelizar em Comunidade”. Este projeto serviu como plano piloto para orientar os trabalhos em preparação para a VI Assembleia, no qual buscou se inspirar no conclamo do Papa Francisco de uma “Igreja em saída”. Várias etapas foram programadas a partir daí e, uma delas, foi a organização dos trabalhos em quatro comissões em âmbito Paroquial, Forâneo e Arquidiocesano: Animação Bíblico-Catequética-Pastoral, Vida em Comunidade, Caridade e Missão.
Em 2019, iniciou-se a Segunda Etapa, “Tempo de sensibilização: tocar e aquecer os corações”. Nesse ano, aconteceram os retiros espirituais nas Foranias, baseados no “Encontro de Jesus com o Cego Bartimeu (MT 10, 46-52). O foco era a espiritualidade e a sensibilização com os mais socialmente vulneráveis.
Em 2020, no primeiro semestre, iniciou-se a Terceira Etapa do Projeto de Evangelização: “Tempo de sensibilização: tocar e aquecer os corações”.
Devido a Pandemia da COVID-19, este processo foi interrompido. A pandemia impactou os trabalhos, exigindo uma nova dinâmica pastoral e, não obstante a limitação causada pelas circunstâncias da pandemia, sobretudo, a ausência de encontros presenciais, buscou-se dar continuidade ao processo preparatório da VI Assembleia. A prioridade da vida, estava em primeiro lugar e, nas circunstâncias da pandemia, exigiram-se, ainda mais, o cuidado pastoral, o fortalecimento das pastorais sociais e da Cáritas Arquidiocesana, bem como se priorizou fortalecer a PASCOM para dar suporte às celebrações virtuais e reuniões/encontros/catequese on-line. A Coordenação de Pastoral, nesse perío
do, deu continuidade aos encontros de cartilha através de podcasts enviados às paróquias e, assim, a Igreja doméstica foi vitalizada como Santuário da Vida. O Arcebispo, em diversos pronunciamentos, enfatizou sobre o cuidado da vida e levou esperança às famílias enlutadas e apoio aos agentes de saúde.
Também, em 2020, concluiu-se o Vade-Mécum, que serviu como modus operandi da ação evangelizadora da Igreja e de orientação das normas e diretrizes sacramentais. “A vida nas comunidades necessita de organização e disciplina. Desse modo, consideramos de grande utilidade agregar junto ao Diretório Litúrgico-Sacramental, o Projeto Arquidiocesano de Evangelização, guias para o fortalecimento da comunhão, da vida pastoral e da nossa ação pastoral” (Dom Darci Jose, Vade Mécum, p. 10)
Em 2021, retomou-se a etapa de 2019, “tempo de sensibilização: tocar e aquecer os corações”, sobretudo, tendo presente as circunstâncias da pandemia, fomentando as ações caritativas, do cuidado com o outro e incentivo aos leigos e pastorais que tiveram seus trabalhos suspensos por causa do distanciamento social imposto naquele momento. A abertura do Sínodo em todas as arquidioceses, no dia 17 de outubro foi um momento importante para o início da sinodalidade, do caminhar juntos: comunhão, participação e missão. A celebração foi transmitida para as paróquias e foi presidida pelo Arcebispo, com a presença do clero e representantes leigos de todas as paróquias. No final do ano, foi entregue o questionário do Sínodo às paróquias para a escuta do Povo de Deus. O processo de escuta ouviu 1088 pessoas, entre elas, os padres e os seminaristas.
Em 2022: “Tempo de avaliação: escutar o Deus do povo na voz do Povo de Deus”, em sintonia com o Sínodo dos Bispos. Após a sistematização do questionário do Sínodo, foi enviado um outro questionário às paróquias, que serviu como um instrumento de avaliação para todas as paróquias e setores pastorais.
Em 2023: Realização de Miniassembleias em todas as Foranias e elaboração do Instrumento de Trabalho.
A VI assembleia foi convocada pelo Arcebispo de Diamantina, Dom Darci José Nicioli, no dia 30 de agosto de 2023, conforme se segue na correspondência enviada para todas as paróquias:
“Tenho ainda muito que vos dizer… O Espírito, ele vos guiará na verdade plena!”
(Jo. 16, 12-13)
O Papa João XXIII, ao convocar o Concílio Vaticano II, tinha em mente a promoção renovada e constituinte da fé da Igreja, recebida dos Apóstolos. Esta missão deve ser continuada, de modo fiel e permanente, sem jamais dá-la como concluída. E queremos perseguir a saga evangelizadora da nossa amada Igreja Arquidiocesana de Diamantina.
Somos agradecidos por todos aqueles e aquelas que nos precederam nesta obra mais que sesquicentenária: aos Srs. Bispos, gerações de sacerdotes, consagrados e consagradas, pais e mães de família, pessoas ilustres e iletrados, lideranças leigas e outros tantos de boa vontade, que doaram suas vidas pela causa do Evangelho. Desde 1854, ano da ereção canônica da nossa Igreja Particular, as sementes da fé, aqui lançadas e cultivadas, já produziram frutos abundantes e continuam a florescer, no Vale e no Sertão.
Pôs-se em andamento, a partir de 2018, um envolvente processo eclesial de consulta às bases, ultrapassando até os percalços do período pandêmico da COVID 19. Agora, em 2023, almejamos vê-lo coroado com a VI Assembleia Arquidiocesana de Pastoral. Acreditamos que todo o trabalho, feito em mutirão, já tenha proporcionado um belo e frutífero caminho de unidade, com vistas à necessária conversão pastoral – do Bispo, do Clero e das Lideranças leigas – para responder aos desafios, necessidades e urgências pastorais do nosso tempo e em nosso chão.
Amados filhos e filhas, convoco e encorajo os Sacerdotes, Diáconos, Religiosos e Religiosas, juntamente com as lideranças pastorais do Laicato, a que abracem com ânimo generoso e especial alegria este “Kairós” – manifestação de Deus – para a nossa Igreja. Será necessária abertura de coração e de mente, pois o que se seguirá deste evento eclesial – objetivos, estratégias e ações concretas – norteará a vida e a missão da Arquidiocese de Diamantina, chamando-nos, todos, ao compromisso discipular-missionário para sermos, verdadeiramente, a “Igreja em saída”, preconizada pelo Papa Francisco.
E tenham por certo: o Espírito de Deus fará frutificar nossos esforços!
Juncti Valemus!
Novo tempo para a Arquidiocese de Diamantina
A VI Assembleia realizada nos dias 04 e 05 de novembro inaugura um tempo especial para a Arquidiocese de Diamantina. Os frutos ainda serão colhidos, como principia o objetivo geral da ação evangelizadora da Arquidiocese de Diamantina, aprovado por unanimidade pelos participantes.
“Evangelizar, formando discípulas e discípulos missionários de Jesus Cristo, a partir da comunhão e da participação, através de uma renovada Animação Bíblico-Catequética da Pastoral, para que haja uma verdadeira experiência de Vida em Comunidade, inspirada na Trindade, vivendo uma profunda Caridade operosa, assumindo a Missão de anunciar e testemunhar o Reino de Deus no Vale e no Sertão”.
[1] Bacharel em Filosofia (1986) e Teologia (1992) pelo Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus – CES – (Belo Horizonte/MG), atual Faculdade dos Jesuítas (FAJE); mestre (1996) e doutor (2002) em Teologia pelo Centre Sèvres – Facultés Jésuites de Paris (França); pós-doutorado pelo Institut Catholique de Paris. Atualmente, Pe. De Mori é reitor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE) e membro da Comissão Continental do Sínodo dos Bispos.
[2] “Os Sínodos, tanto universais como particulares, desde os primeiros séculos, são assembleias eclesiais convocadas para discernir, à luz da Palavra de Deus e na escuta do Espírito Santo, as questões doutrinais, litúrgicas, canônicas e pastorais que se apresentam no desenvolver da missão”.