Pe. Dr. Frederico Martins e Silva
Pároco da Paróquia Santo Antônio de Curvelo/MG
Curvelo, 30 de dezembro de 2022
Curvelo, outrora, Santo Antônio da Estrada, tem uma de suas maiores preciosidades, se não a maior, restaurada: A imagem do seu padroeiro! A escultura histórica e preciosa, de 210 kg, que se encontra no retábulo-mor da Matriz de Santo Antônio. Na ausência completa de fontes sobre a exata origem da imagem, procuramos informações com especialistas. Concluiu-se que foi feita provavelmente na oficina da cidade do Porto em Portugal, dos Irmãos Estrela, da Casa Estrela. Essa é uma hipótese ancorada pelas teorias do historiador Olinto Rodrigues dos Santos Filho, servidor aposentado do IPHAN, que foi coordenador da equipe executiva do Inventário Nacional de Bens Móveis e Integrados de Minas Gerais.
É uma imagem neoclássica, do século XIX, muito típica do período, com as barras em acanto, desenho de um caminho sem fim, bem comum das imagens confeccionadas na cidade do Porto, nesse período. Entronizada solenemente na “nova” matriz aos 26 de agosto de 1878 pelo Pároco, Reverendíssimo Pe. Severiano de Campos Rocha, pronunciando o panegírico do glorioso padroeiro. Como descrito na obra de Antônio Gabriel Diniz, “Dados para a História de Curvelo”. Nos registros nada consta sobre a aquisição da imagem. Provavelmente teria sido oferta de algum fiel devoto.
Trazida de Portugal para o Rio de Janeiro, foi conduzida para Palmira – Santo Dumont/MG. De Palmira foi transportada para Curvelo em carro de bois, percorrendo cerca de 500 quilômetros.
O valioso bem se encontrava bastante degradado pelo tempo. Desde que chegamos à nossa Paróquia, foi uma das metas restaurá-la e, para isso, deveríamos contar com especialistas. A empresa Anima Restauração e Artes Eireli, de São João Del Rey, especializada nas atividades de restauro de edificações históricas, bens integrados e obras de arte, que presta serviços de grande envergadura em Minas Gerais e fora, assumiu a importante missão. Nossa exigência foi que os técnicos viessem até Curvelo para que não precisássemos deslocar a imagem para outra cidade. Atuaram no processo os seguintes profissionais: restauradora Katya Helaine Silva, técnicos em restauração Douglas Costa e Ubiratan Araújo, sob a coordenação do restaurador sênior Cristiano Felipe Ribeiro, representante legal da empresa. Primeiro um técnico para limpar a imagem.
As atividades de restauro ocorreram na própria igreja, no altar de Santo Antônio, no período de julho a outubro de 2022.
Importante conhecer as características técnicas e estilísticas. Características técnicas: peça em madeira (pinho de riga), esculpida em partes encaixadas, coladas e parafusadas. Mãos encaixadas, Menino Jesus preso pelo pé com pino de chumbo. Olhos de vidro, cruz solta e resplendor e cora prateados. Policromia marrom, castanho, bege, douramento e carnação. Caracteríticas Estilísticas: Imagem de origem portuguesa, datável do século XIX. Vestes caídas, pregas verticais com ligeiro movimento. Rosto erudito, possuindo nariz reto, boca entreaberta, queixo montículo, cabelos em mechas trabalhadas. O menino de expressão doce possui dobras e ligeira contorção da cabeça.
A imagem se encontrava com o estrutural de base em bom estado. Possuía diversas fissuras e trincas. Havia perdas em diversos setores. Demais perdas ocultas por obturação de perdas e repinturas, de intervenções anteriores. A policromia se encontrava oxidada bem como o verniz. Apresentava descolamento da policromia e diversas manchas. Havia sujidades que prejudicavam a estética da policromia, até mesmo ocultando-a.
Foi montada uma plataforma de trabalho para ter acesso a todas as partes da peça. Foi realizada a aplicação do produto para descupinização, feito com Synper Plus aplicado por injeção ou com pincel. Após a higienização, foram realizadas a refixação dos estratos pictóricos para garantir que estivessem bem firmes. Realizada a remoção de sujidade superficial (poeira e óleos acumulados) com trinchas de cerdas macias e aspirador de pó. Foi feita com muito cuidado para sensibilizar a pintura original, uma limpeza da carnação e remoção de verniz, após testes de solubilidade para definir os produtos mais adequados.
Houve uma intervenção significativa, no que tange à complementação/substituição de partes faltantes/danificadas, utilizando a mesma madeira, com técnicas de entalhe e os encaixes ou colagem descritos nas características técnicas. Por exemplo, o dedo indicador da mão direita de Santo Antônio, que não existia. Mão que segura a cruz. Também os cinco dedos da mão direita do Menino Jesus, dentre outros.
Os trabalhos foram realizados utilizando todas as normas, seguindo o roteiro contido nas “Normas para Conservação-Restauração de Elementos Artísticos Móveis, Integrados e Acervo de Imaginárias” elaborado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA/MG), seguindo a orientação do IPHAN para restauro e conservação de artes históricas.
O resultado foi incrível! Trouxe de volta a exuberância da obra, permitindo que a mesma se mantivesse com a integridade por vários anos. Algumas curiosidades: apareceu no hábito do santo o “caminho sem fim” em sua plenitude; dentes na boca; estrelas dentro das mangas do hábito; desenhos de escamas de peixe, na parte inferior do hábito; texto escrito em latim (não foi possível identificá-lo em sua totalidade) na parte interna do livro que o santo leva à mão esquerda, onde está o Menino Jesus sobreposto.
Contamos agora com o apoio de toda a comunidade curvelana residente e ausente para que ajude a custear o nobre trabalho. Faça sua doação e nos informe: Pix: 20.078.531.0028-24. Conta Corrente Caixa Econômica: 549-3, 003, Ag. 0111.
Que este trabalho fique na memória curvelana e se perpetue em outras linhas de ação para preservar nossa memória, preservando assim nossa identidade.
Rogai por nós Santo Antônio, para que sejamos dignos das promessas de Cristo!

