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Mês da Bíblia – Introdução ao Livro de Josué

Texto da Prof.ª Ma. Eliana Tomaz de Almeida

O “Mês da Bíblia” é um período privilegiado para refletir, estudar e rezar a Palavra de Deus. Este ano, o livro escolhido é o de Josué (AT) e o Lema é: “O Senhor, teu Deus, estará contigo por onde quer que vás” (Js 1,9). O livro de Josué principia os livros denominados históricos e é o primeiro livro após o Pentateuco.

A trajetória histórica do Povo de Deus é incentivo para a caminhada da Igreja atual. A jornada de Josué pela posse da terra prometida, assemelha-se à trajetória de muitas famílias, trabalhadores, migrantes, em busca de terra, trabalho e teto. São os três “Ts” que o Papa Francisco destaca em suas audiências, frente à realidade sofrida de povos sem chão e dignidade. “(…) Terra, teto e trabalho – isso pelo qual vocês lutam – são direitos sagrados. Reivindicar isso não é nada raro, é a doutrina social da Igreja” (Papa Francisco). O livro de Josué se atualiza na história de uma grande parcela da humanidade, sem posse da terra e sem condições para viver dignamente como filhos e filhas de Deus.

Em recentes pesquisas, a redação final do livro se dá por volta de 250 e 200 a.C.  e se situa no período do exílio babilônico (597-536 a.C.). Josué é o personagem principal e o seu nome significa: “O Senhor salva”. Considerado “secretário ajudante” de Moisés, recebe dele todas as instruções, assumindo a sucessão e liderança do povo na conquista da Terra. Também é-lhe atribuído o papel mediador entre o povo e Deus. A temática central é a entrada do povo de Deus na Terra Prometida, após longa travessia pelo deserto.  “O Livro de Josué recorda a luta dos israelitas para ocuparem a terra controlada pelos reis das fortificadas cidades-estados de Canaã, por volta de 100 a.C.” (KONINGS, 1997, p. 53).

A Lei–Torá em hebraico tem um sentido bem significativo e pedagógico na história do povo de Deus. Na mentalidade do Autor bíblico, a Lei é um conjunto de normas para o bem viver, que deve ser praticada, proporcionando para quem a segue, felicidade. A Lei não caiu dos Céus, mas surgiu de um aprendizado, do convívio das famílias e da convivência social: clãs e tribos. Sendo assim, a Lei, igualmente, tem a função de coibir a violência e o fratricídio. Para os mais vulneráveis, como o estrangeiro, o órfão e a viúva, ela é amparo (cf. Dt 10, 17-18). Neste contexto, Josué é observante da Lei e fiel ao Deus único.

Também, a Lei, está relacionada à arte de ensinar. “Sim: Lei, na mentalidade dos autores bíblicos, não é um objeto a ser contemplado, imaginado, escrito, sem a necessidade de ser observada ou praticada. Não. É o ato de conhecer, testemunhar e ensinar”. (Texto Base, 2022, p.18) Embora o politeísmo fosse comum naquele tempo, Josué se manteve fiel e temente a Deus. É dele a afirmação: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor!” (Js 24,15). Essa fidelidade se estende a outras realidades e vai se tornando garantia de vitória na conquista e posse da Terra. O povo é admoestado a não se sucumbir aos cultos estrangeiros, mas, deixar-se guiar pela Palavra e a Lei.  “Que o livro dessa Lei esteja sempre em tua voz. Medita nele dia e noite, para que procures agir de acordo com tudo o que nele está escrito. Assim farás prosperar teus caminhos e serás bem sucedido. (…) Não tenhas medo, não te acovardes, pois o SENHOR teu Deus, estará contigo por onde quer que vás” (Js 1,7-9). Como bom seguidor da Lei, Josué quer que o povo viva a Lei na prática, deixando-se guiar por Ela, assim como ordena o Senhor.

Outra chave de leitura e que ocupa lugar central em toda a Bíblia é o tema da Terra. Ontem e hoje, a Terra deu origem e esperança ao povo peregrino. Desde Abraão, Pai do povo eleito, a promessa de Deus nutre a esperança do povo pela posse da Terra de Canaã. Todos querem terra e esse sonho acalanta o povo de Deus nessa conquista. “Ao longo de toda esta história amorosa, a Terra se apresentou sempre, em primeiro lugar, como signo de felicidade. Vista a partir da deportação, é uma terra rica, coberta de pastagens e flores, a terra que mana leite e mel” (Ex 3,8; Lv 20,24; Nm 23,27; Dt 6,3; Js 5,6 etc), cuja posse física é símbolo de tranquilidade”. (ECHEGARAY, 1994, 61-62)

A Terra não é só um dos temas mais importantes do Livro de Josué, mas de toda a Bíblia e da caminhada do povo. O conceito de povo e nação está relacionado à Terra, à libertação da escravidão e, sobretudo, à saga liderada por Moisés. Terra, vida e povo entrelaçam-se na história do povo da Bíblia. “Todo esforço pelo retorno à Terra é narrado dentro de um território chamado terra de Canaã. Trata-se de um território que será palco de inúmeras disputas territoriais, segundo os relatos de Josué”. (Texto Base, 2022, p.23)

Sendo um tema recorrente, a Guerra está presente em toda a trajetória do povo e são guerras intermináveis. Com isso, a intenção do Autor sagrado não é fazer apologia à guerra. Com o olhar atual, importa interpretar o contexto da redação do livro e o sentido da guerra como um dos principais meios para a conquista e posse da Terra, igualmente, ocasião para se perceber a manifestação e proteção do Senhor a Josué e aos seus fiéis guerreiros. As guerras, nesse sentido e imaginário do povo daquele tempo, são até justificáveis.  “No quadro de uma ideologia de guerra santa, a conquista é atribuída ao Deus único, Javé, visto como chefe guerreiro (assim o apresenta o “livro das guerras de Javé”, mencionado em Num 21,14”. (KONINGS, 1997, p.53). “Israel não tem nada a temer, pois o Senhor luta em seu favor” (Dt 7,21; Js 1,9). Cabe aqui uma referência ao Novo Testamento. Se no Antigo Testamento, a guerra encontra justificativa, no Novo Testamento, é diferente. Jesus não abre nenhuma concessão à violência. É o que se percebe nas Bem-aventuranças: “Bem-aventurados os que promovem a paz (Mt 5,9).

A narrativa do Livro de Josué é querigmática e revela um Deus sensível às necessidades do povo escolhido. Josué é para o povo, testemunho autêntico de que Deus cumpre a sua promessa, liberta o povo da escravidão e avança com Ele para a conquista da Terra Prometida. “Josué é lembrado como aquele que orientou as tribos de Israel para que, uma vez assentadas na terra de Canaã, ficassem fiéis a Javé e não se entregassem às religiões cananéias, com tudo o que isso implicava. Assim, a identidade de Israel cristalizou-se em torno da fidelidade a Javé”. (KONINGS, 1997, p.54).

Eis a síntese catequética e uma breve introdução do livro de Josué que inspirou o povo na observância e prática da Lei, na conquista da Terra, no caminho a seguir e na opção pelo Deus Único, como se observa na renovação da Aliança do Sinai (Js 24).

Referências Bibliográficas:

CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Mês da Bíblia 2022 – Livro de Josué: “o Senhor, teu Deus, estará contigo por onde quer que vás” (Js 1,9). Brasília: CNBB, 2022.

ECHEGARAY, J Gozáles;  ASURMENDI, J. [et al].  A Bíblia e Seu Contexto. São Paulo: M Edições, 1994, v.1 (Introdução ao Estudo da Bíblia).

KONINGS, Johan. A Bíblia nas suas origens e hoje. Petrópolis: Vozes, 1998.

https://www.ihu.unisinos.br/noticias/536809-quando-eu-falo-de-terra-teto-e-trabalho-dizem-que-o-papa-e-comunista-discurso-de-francisco-aos-movimentos-populares

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