O JUBILEU DA ESPERANÇA (I)
No ano de 1300 o Papa Bonifácio VIII proclamou o primeiro Jubileu da história da Igreja Católica, um “Ano Santo” caraterizado pela experiência mais intensa do perdão dos pecados e, em particular, de concessão de indulgências. A sua inspiração é bíblica. O Messias é enviado, também, “para proclamar um ano da graça do Senhor” (ls 61, 2; Lc 4,17). A frequência dos jubileus mudou ao longo do tempo. Inicialmente eram celebrados a cada 100 anos, mas para que todas as geraçoes pudessem ser alcançadas por essa graça, em 1343 o Papa Clemente VI passou a celebrá-los a cada 50 anos e, por fim, o Papa Paulo II, em 1470, reduziu o seu tempo para 25 anos. Ao longo da história, os Papas, também, proclamaram jubileus extraordinários.
Já era previsto o Jubileu Ordinário no Ano de 2025. O Papa Francisco quis, porém, que ele fosse chamado de Jubileu da Esperança, tendo em vista os grandes desafios da nossa época: “Devemos manter acesa a chama da esperança que nos foi dada e fazer todo o possivel para que cada um recupere a força e a certeza de olhar para o futuro com espírito aberto, coração confiante e mente clarividente. O próximo Jubileu podera favorecer a recomposição de um clima de esperança e confiança, como sinal de um renovado renascimento do qual todos sentimos a urgência. Por isso escolhi o lema Peregrinos de esperança”
(Papa Francisco, Carta sobre o Jubileu de 2025).
Segundo a tradição, a vivência do Jubileu é marcada pela peregrinação a Roma e pela travessia da Porta Santa. Com a abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro pelo Papa Francisco na tarde do dia 24 de dezembro passado ocorreu o início oficial do Ano Santo. Originalmente, era aberta uma única porta, na Basílica de São João de Latrão, catedral do bispo de Roma, mas para permitir que mais peregrinos fizessem a travessia, são abertas Portas Santas também nas outras três Basílicas Maiores Romanas. Ao atravessar esse limiar, o peregrino e convidado a se lembrar das palavras do Senhor: “Eu sou a porta: se alguém entrar através de mim, será salvo” (Jo 10, 9).
Embora haja Portas Santas somente nas Basilicas Maiores em Roma, perto de nós existem Igrejas jubilares, metas de peregrinação e simbolo da esperança na misericórdia de Deus. Em nossa Arquidiocese foram escolhidas a Catedral Metropolitana de Diamantina; a Basilica do Sagrado Coração de Jesus de Diamantina; a Basílica de São Geraldo Magela de Curvelo; o Santuário de Nossa Senhora da Piedade de Felixlândia; o Santuário de Nossa Senhora da Abadia de Carbonita; o Santuário de Nossa Senhora das Dores da Serra do Caroula do Serro, durante a festa anual. As igrejas jubilares querem ser uma fonte viva de misericordia e de perdão; uma espécie de oasis de esperança em um mundo espiritualmente desertificado.
Todas as paróquias são convidadas a se organizarem em peregrinação a essas igrejas. Os momentos de oração feitos durante o percurso mostram que o peregrino tem os caminhos de Deus “em seu coração” (SI 83,6). Para o peregrino servem até mesmo as paradas e as várias etapas da viagem, onde se percebe que – antes e ao mesmo tempo – outros peregrinos passaram e que caminhos de santidade percorreram essas mesmas estradas: “todos os caminhos levam a Roma”.
Tanto a peregrinação quanto a travessia da Porta Santa querem ser símbolos de reconciliação com Deus e com os irmãos. O Ano Jubilar é ocasião para que Deus seja reconduzido ao centro da nossa existência. Por isso, os fieis são particularmente chamados a vivencia do Sacramento da Confissão, sinal visível da eterna misericórdia de Deus em nossas vidas. O ponto mais alto da peregrinação, todavia, é sempre a Celebração Eucarística. Na Eucaristia, Jesus mesmo se faz peregrino e caminha ao lado dos seus discípulos revelando-lhes o sentido das Escrituras e aquecendo-lhes o coração de tal modo que possam dizer: “Fica conosco, Senhor, pois já é tarde e o dia declina” (Lc 24, 29).
O Jubileu é um tempo de indulgência. Essa doutrina, exclusivamente católica, está no centro das celebrações jubilares e nem sempre é bem compreendida. Buscaremos apresentá-la no próximo artigo.
Pe. Júlio César Morais
Pároco da Paróquia Santo Antônio da Sé – Catedral
julioscjm9@hotmail.com