CAMPANHA DA FRATERNIDADE DE 2025
“Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas”!
A Campanha da Fraternidade deste ano traz como Tema/Lema: “Fraternidade e Ecologia Integral: ‘E Deus viu que tudo era muito bom’” (Gn 1,31). Iniciou-se em 1964, em pleno Concílio Vaticano II e foi assumida em âmbito nacional por iniciativa de Dom Hélder Câmara, com apoio das Igrejas locais e CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Constitui, assim, no período quaresmal, um momento forte de comunhão, conversão e partilha. Durante 61 anos, a Campanha da Fraternidade tem trazido à luz temas importantes de reflexão e apelo de mudanças. Ao longo de sua trajetória, foram tratados oito temas sobre Ecologia. A preocupação ecológico-social pertence ao tesouro da Doutrina Social da Igreja e do Magistério dos papas. Desde Leão XIII, passando por São João XXIII, São Paulo VI, São João Paulo II e Bento XVI, destacam-se temas variados: “a destinação universal dos bens da terra, o desenvolvimento dos povos, os perigos da exploração e da crescente ruptura entre sociedade e natureza, princípios da ética ambiental, a urgência de se educar para a responsabilidade ecológica, a interligação entre o zelo pelo ser humano e pela natureza” (Texto Base CF-2025, p. 78). O Papa Francisco continua a reflexão de seus antecessores e desde o início do seu pontificado, demonstra preocupação com a temática e publicou duas exortações sobre ecologia: Laudato Sí (2016) e Laudato Deum (2023).
A Modernidade inaugura uma nova etapa da história humana e com ela uma mudança de paradigma. O progresso em diversas áreas representou momentos decisivos de uma prática humana de subjugação e dominação da natureza, dando início a crise ecológica. Ao lado do avanço da ciência em diversos campos e das grandes revoluções tecnológicas, cresceram, também, as depredações, o aquecimento global e as ameaças de destruição da vida humana e de todos os seres vivos. O Paradigma Moderno está em crise. O sonho que o alimentou não comporta mais a postura poder/dominação ancestral sobre a natureza e as pessoas. A CF deste ano possibilita a percepção de uma mudança de paradigma, não mais centrado no ser humano, mas em toda a criação de Deus. O paradigma ecológico oferece reflexões oportunas sobre diversos assuntos, ampliando a compreensão de Deus, do Cosmos e, consequentemente, do homem e da mulher numa relação de cooperação e responsabilidade. O papel do ser humano, na perspectiva do Livro do Gênesis, é o de ser cocriador, zelador e guardião da criação. O pecado do desamor rompe a harmonia da relação entre Deus, o ser humano e a natureza. Uma certeza. Um Deus sem o mundo subsiste, mas um mundo sem Deus padece.
A espiritualidade que procede dessa nova postura é integral, da comoção, do cuidado e do respeito à natureza e aos pobres. Espiritualidade vem de espírito. Todo ser que respira é dotado de espírito; a ruah está presente desde os animais, plantas, ser humano à Terra e ao Cosmos. Homens e mulheres espirituais são capazes de captar a realidade na sua profundidade que se vela, a relação de tudo com a Última realidade, Deus. A figura paradigmática de São Francisco de Assis representa uma experiência místico-ecológica incomparável de re-ligar a criação e Deus. Na Laudato Sí, o Papa Francisco reflete que “(…) essa ruptura é o pecado. A harmonia entre o Criador, a humanidade e toda criação foi destruída por termos pretendido ocupar o lugar de Deus, recusando reconhecer-nos como criaturas limitadas. Esse fato distorceu também a natureza do mandato de ‘dominar’ a terra (cf. Gn 1,28) e de a ‘cultivar e guardar’ (Gn 2,15)” (Laudato Sí, n.66).
A atitude de São Francisco de veneração, ternura e compaixão continua a exercer fascínio na atualidade e na atual crise representa a cura, o restabelecimento do vínculo perdido e o Eco-humanismo integral. Nele nos inspiramos para contemplar a criação como obra de Deus, conforme descreve o Cântico dos Cânticos: “Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas”!
A composição do Cântico das Criaturas de São Francisco completa 800 anos e, ainda hoje, desperta a consciência da fraternidade universal e o cuidado de tudo e com todos. Somos todos irmãos e irmãs! Não temos um planeta reserva, caso este seja exterminado. Igualmente, as gerações futuras, merecerem encontrar um planeta habitável. A nova postura é a de estar junto, amando, convivendo numa grande civilização e família planetária. A Casa Comum, o planeta, pertence a todos.
Além do compromisso pessoal de cada um, a Campanha da Fraternidade chama a atenção para um novo humanismo integral e solidário, que perpassa desde a ecologia do cotidiano ao Poder Público e das nações. “O crescimento da economia deve incluir a proteção ao meio ambiente, do qual fazemos parte (LS, n. 138-141). Já a ecologia social diz respeito à atuação de grupos organizados que defendem o meio ambiente e a qualidade de vida humana (LS, n.142)” (Texto Base, n. 10) Há que se questionar, igualmente, os modelos de desenvolvimento, produção e consumo não ecológicos e destituídos de sustentabilidade.
A esperança é sempre maior do que as dificuldades e sofrimentos. Somos peregrinos da Esperança e o Ano Jubilar configura-se como momento oportuno para avançar em passos significativos na defesa da ecologia e do humanismo integral. Tudo é muito bom, belo e harmonioso – “Deus viu que tudo era muito bom”! – para se perder na ganância e ações desumanas e destrutivas. “Amor, ternura e compaixão” é o que nos pedem São Francisco e o Papa Francisco. Assumir a CF deste ano é fazer a experiência do amor bondade e do amor misericordioso de Deus. A Boa Notícia de Jesus continua a clamar: “Eu vim para que todos tenham vida, e para que a tenham em abundância” (Jo 10,10).
Redação: Eliana Tomaz de Almeida, Mestra em Teologia.
